São Paulo, 04/01/2019 – A oferta de novos empreendimentos residenciais
deve voltar a crescer no País em 2019, após anos de crise que forçaram
incorporadoras a suspenderem projetos e priorizarem a desova de unidades
encalhadas ou devolvidas por cancelamentos de vendas. Com os estoques sendo
normalizados na maior parte do Brasil e com as expectativas de melhora no quadro
econômico nacional, a tendência é de reaquecimento do setor daqui em diante,
estimam empresários e consultores.
Os lançamentos e as vendas de imóveis no País devem
crescer na ordem de 10% a 15% na comparação de 2019 com
2018, segundo projeções da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
“Esperamos que seja um crescimento paulatino”, afirmou o presidente da Comissão
Imobiliária da CBIC, Celso Petrucci.
A instituição calcula que o estoque de imóveis
novos tenha recuado 14% no último ano, passando de 137,5 mil para 118,5 mil
unidades, considerando moradias na planta, em obras e recém construídas. Os
dados abrangem 21 capitais e regiões metropolitanas. “A grande maioria das praças
está com escoamento de estoques alto, o que abre espaço para a volta dos
lançamentos”, disse Petrucci.
A cidade de São Paulo, maior mercado imobiliário do
País, já passou por essa inflexão e voltou a crescer. O estoque no município
chegou a 18,2 mil unidades no fim de 2018, ante um pico de 28,0 mil no auge da
crise, em 2015. Como consequência, os lançamentos e as vendas acumuladas no ano
passado até outubro subiram 26% e 41%, respectivamente, conforme dados do Sindicato
da Habitação (Secovi-SP). Para este ano, a paulistana Eztec é uma das
incorporadoras que aposta na expansão dos negócios. A companhia anunciou a meta
de lançar empreendimentos com valor geral de vendas de R$ 1bilhão a R$ 1,5
bilhão em 2019, ante R$ 820 milhões em 2018. “É um momento de ouro”, disse o diretor-presidente,
Sílvio Zarzur, referindo-se à oportunidade de comprar terrenos em condições vantajosas
após anos de crise. “Estamos otimistas”, emendou.
O fundador e presidente do conselho de
administração da Cyrela, Elie Horn, também espera expansão neste ano, embora
não mencione números. No fim de 2018, a companhia vinha registrando uma alta
robusta nas vendas. “Há muito tempo não tínhamos esse sabor. É muito gostoso
ter clientes na porta, vender e assinar contratos”, contou Horn.
A retomada dos lançamentos também demonstra a
tentativa de recomposição dos negócios por parte das maiores incorporadoras do
Brasil listadas na bolsa de valores, que seguem no vermelho. A temporada de
balanços mais recente evidenciou um prejuízo setorial de R$ 225 milhões no terceiro
trimestre, considerando os balanços de Cyrela, Direcional, Even, Eztec, Gafisa,
MRV, PDG, Rossi, RNI, Tecnisa e Tenda. De modo geral, o prejuízo refletiu a
diminuição dos projetos nos anos anteriores e a menor diluição de despesas, bem
como a perda de receita decorrente dos cancelamentos de vendas.
Os resultados positivos têm sido anotados apenas
por MRV, Direcional e Tenda, incorporadoras que trabalham dentro do Minha Casa
Minha Vida (MCMV). Neste segmento, os lançamentos e as vendas foram sustentados
por financiamentos com juros baixos subsidiados pela FGTS e pela demanda
latente da população de renda média e baixa, que não dispõe de imóvel próprio.
Financiamento – Já para este ano, a oferta
crescente de crédito dará mais fôlego ao mercado imobiliário, principalmente
para o segmento de médio e alto padrão, onde é pequeno o financiamento a juros
baixos do FGTS. “Há maior apetite por concessão de empréstimos tanto entre os
bancos privados quanto entre os públicos”, afirmou o presidente da Associação
Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto
Duarte. “Para este ano, nossa expectativa é de crescimento dos empréstimos”. Os
financiamentos com recursos originados nas cadernetas de poupança atingiram R$
51,3 bilhões no último ano até novembro, uma alta de 30%.
Duarte lembrou que as taxas de financiamento de
residências de médio e alto padrão regrediram de um patamar acima de 10% ao
ano, em 2017, até chegarem a cerca de 9% a.a. em 2018, em média, nível
semelhante ao período anterior ao início da crise, em 2014. “Isso mostra que o
mercado voltou a ficar mais convidativo”, disse. Segundo ele, os juros devem
continuar estáveis ao longo de 2019, podendo sofrer elevação só no fim do ano,
caso o Banco Central aumente a taxa básica de juros da economia (Selic).
Reaquecimento sim, boom não – Embora haja um
reaquecimento em andamento, o mercado imobiliário não viverá um novo “boom”
como o ocorrido há uma década, ponderou a coordenadora de estudos da construção
da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Maria Castelo. “Há um otimismo no ar, mas
também existem muitas incertezas pela frente”, alertou.
Além da redução dos estoques de modo geral, Castelo
citou que o mercado imobiliário também tem a seu favor um ambiente econômico
mais saudável no País, com inflação sob controle, disponibilidade de
financiamento e confiança crescente de empresários e consumidores para fechar
negócios. Já pelo lado negativo, ainda resta um grande número de pessoas
desempregadas e endividadas, enquanto a geração de vagas de trabalho e a
recomposição das rendas têm se recuperado vagarosamente.
Outro ponto crucial é a necessidade de reequilíbrio
das contas do governo federal por meio da revisão dos sistemas de
aposentadorias e tributos, o que será determinante para a saúde financeira do
País no médio e no longo prazos. “Se o governo não conseguir entregar as
reformas esperadas, aí o quadro macroeconômico ficará mais difícil, afetando
todos os setores produtivos, inclusive a construção civil”, frisou Castelo.
Fonte: Reportagem de Circe Bonatelli – circe.bonatelli@estadao.com –
Jornal O Estado de São Paulo de 04/01/2019
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